O Pássaro Azul
Numa aldeia, onde o campo é rei, as árvores são rainhas e as flores são príncipes e princesas, existiu uma camponesa chamada Alice Passarinho. Ela já tinha alguma idade, vivia numa casa com um bonito jardim e tinha uma vida normal do campo: levantava-se cedo, cozinhava, tratava das suas rosas, malmequeres, crisântemos, etc.
A Dona Alice Passarinho era bem conhecida porque tinha um animal de estimação muito raro e de uma beleza de contos de fada. Deu-lhe o nome de Blue dado que a sua plumagem era de um azul intenso. Gostava muito de vê-lo a passear no céu sobre o seu jardim, fazia pequenas corridas, brincava às escondidas por entre flores e arbustos, parecia uma criança a divertir-se.


Como nem tudo são rosas, mesmo no campo, num dia de nevoeiro cerrado, o Blue quis esvoaçar um pouco. A certa altura, desorientou-se e perdeu-se no céu.
Dona Alice procurou o seu companheiro e começou a cantar a sua canção favorita. Mas, o seu Blue não apareceu, nem para ouvir, nem para brincar. Nada. Nem visto nem achado!
Quando o nevoeiro já tinha quase desaparecido, Dona Alice procurou nas árvores junto à sua casa, não fosse ele estar no esconde-esconde. Nada! Nem visto, nem achado!
Começou a aflição, a agitação, a palpitação e para mais confusão Dona Alice avista o caçador de passaritos: o senhor Zé Pardal.


Lá explicou ao senhor o sumiço do seu pássaro Blue, não fosse o Pardal atirar ao seu passarinho de estimação!
- Dona Alice Passarinho, sossegue! Eu vou ajudá-la a encontrar o seu passarinho – disse o senhor Zé Pardal com toda a calma.
- Como pode ver, tenho aqui alguns à cintura para o meu jantar, mas nenhum é azul, nem Blue - acrescentou ele.


Então, lá foram mato fora, ou mato dentro, como quiserem…
Mais à frente, encontraram uma casita, até bem catita, aproximaram-se e bateram à porta.
Apareceu uma mulher de idade duvidosa, com um grande nariz, cabelo desgadelhado e olhos arregalados…
- Que quereis? - disse a mulher com um tom de poucos amigos.
- Ando à procura do meu pássaro que desapareceu. Por acaso não o viu? - perguntou a Dona Alice um pouco receosa.
- Não vi nada, nem ninguém! - respondeu a mulher, fechando a porta com força, mesmo na cara da Passarinho.
- Dona Alice, Dona Alice aqui há passarinho...- comentou o Pardal. Acho que esta senhora pouco formosa e pouco amistosa nos está a esconder algo…
-O senhor Zé tem razão. Vamos esperar um pouco, perto daqueles arbustos, e ver se a coelha sai da toca...- propôs a Dona Alice.
Estavam eles de vigia quando a senhora, de pouca formosura, saiu de casa e afastou-se pelo caminho.
O senhor Zé e a Dona Alice foram perto de uma janela aberta e olharam para o interior.
- Dona Alice, Dona Alice está a ver aquele caldeirão a fumegar? E aquele gatinho preto lá no canto? E aqueles frasquinhos cheios de sapos, aranhas, morcegos e coisas semelhantes? Ai que nós temos aqui alguma bruxa escondida com o rabo de gato lá dentro! - observava o senhor Pardal, já quase a perder o pio.
-Senhor Zé, deixe-se disso! Salte é lá para dentro e solte o meu Blue que está preso naquela gaiola, perto do caldeirão. Coitadinho! Ele está quase azul de medo do tareco preto! - constatou a Dona Alice.
Cheio de coragem de pardal valente, saltou a janela, libertou o passarinho e correu pelo mato fora acompanhado da Dona Alice que se esquecera da sua idade e dos seus ossos doridos.
Chegaram a casa um pouco ofegantes, mas a senhora Passarinho estava muito contente com o regresso do seu Blue e da companhia do senhor Pardal. Logo decidiu festejar o momento com um piquenique no quintal.
Estavam eles no seu banquete, com sementes de girassol, bolo de chocolate recheado com chantilly e morangos, suculentas maçãs vermelhas, sumo de laranja e água fresca, quando se ouviu uma voz:
- O meu pássaro! O meu pássaro! Roubaram o meu pássaro!
Olharam os três com admiração: a senhora Passarinho, o senhor Pardal e o Pássaro Blue. Afinal, por quem chamava a voz?
-Oh, senhora, este pássaro é meu há já sete divertidos anos- disse prontamente a Dona Alice.
-Esse pássaro estava numa gaiola na minha casa e foi roubado! - insistiu a dita senhora.
- Ouça lá, para que queria o Blue? - perguntou curioso o senhor Zé.
Depois de alguns esclarecimentos, a senhora contou que se chamava Matilde Pintassilgo e que precisava de uma pena de pássaro azul para fazer um feitiço às pessoas da aldeia. Elas andavam muito tristonhas e só queria pô-las alegres e bem-dispostas outra vez.
O nosso pássaro azul logo retirou uma pena com o bico e levou-a à senhora. Admirados com o gesto do Blue e, vendo a boa intenção da Dona Matilde Pintassilgo, também a convidaram para o delicioso piquenique.
E assim acabou este acontecimento e iniciou-se uma bela amizade onde reina a passarada.
Criada por Bianca Santos – 4.º ano (9 anos).